quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ENCONTRO

Não sei se deveras existe,
só sei que o estranho me espreita,
e coisas inusitadas
surgem dependuradas
num firmamento de zinco.

Tudo é muito estranho e novo.
Tudo veio em bandeja de excelência,
e os lenços de linho estão dobrados
sobre a mesa.

─ O patrão descerá em instantes.

Os cristais intocáveis
rebrilham sobre a toalha de renda;
talheres de prata refulgem.

Não sei se deveras existe,
mas o mordomo fez mesura e saiu.
O maltrapilho, no meio da sala,
não sabe o que fazer.

Não sei se deveras existe,
mas o maltrapilho cheira
suas próprias mãos
há muito não lavadas.

O coração palpita,
um pequeno rato atravessou a sala.
Ouviu-se um tiro. Um grito!
O patrão maltrapilho desce
as escadas. ensangüentado.
Mármore salpicado de rubro.

─ Olá. Obrigado por ter vindo.
Jantamos? Sente-se, por favor.

Dois pares de olhos se fixaram
de modo estranho, de modo inusitado.
Um par azul, um par negro.

Lá fora era noite, e o céu estava límpido,
mas as estrelas eram suspeitas.
E a luz exibia um sorriso de escárnio.

DADO CARVALHO
24.08.2011 – 22:50h

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