sábado, 10 de setembro de 2011

DENTRO DA NOITE FRIA




Em seu peito
dormiam anjos azuis,
silenciosos, mansos.

Lá fora
a noite era fria e úmida.

A lua rasgou a nuvem negra,
querendo ver seu rosto,
quem sabe,
e encontrou-o inerte,
de olhos parados
em frente aos vidros baços
da janela
a olhar impassível a noite.

Uma voz se ouviu:
“Sai de ti, ó jovem.
Vem caminhar
sobre o chão de folhas secas,
sentir a o vento da noite
acariciando a pele de teu rosto.

“Logo o sol rasgará
esse manto negro,
e tudo brilhará como nunca.

“Vem banhar-se nessa luz.
Não fique aí, em frente à janela
vendo o mundo passar.

“Amores antigos
não ressurgirão do passado.
Abre tuas janelas para o presente,
acorda teus anjos
que fizeste adormecer
no torpor de tua alma.

“Vem, a vida te espera.
Aqui fora há lugares tranquilos
onde é bom sonhar.

“Os ventos da noite te levarão
por entre árvores e arbustos;
caminhos misteriosos
onde é bom cismar.”

A noite escura e fria
engoliu a lua
e abafou a voz.

Seus pés o levaram até a porta;
sua mão pálida ergueu-se
à luz buxuleante da vela.

Parou. Mão estendida no ar.

Aguardemos que hoje,
essa porta seja aberta.

DADO CARVALHO
Sorocaba, 10.09.2011 – 11:26h


Nenhum comentário:

Postar um comentário